sábado, julho 22, 2006

Coração Vazio

Cheguei já era tarde, alta noite, sozinha. Em outros tempos mergulharia numa garrafa de vinho, hoje foi diferente. Tirei minhas roupas, deixei a água escorrer pelo corpo, na tentativa de calar, ficar inerte, molhada, nua, sozinha. Em alguns momentos retirei-o do coração, outrora, hoje não mais conseguiria . Desliguei as luzes, fiquei apenas sob a palidez da lua. O vento que fazia o balé das árvores, era o mesmo que balançava as cortinas, e me trazia a saudade - Doença incurável, que dilacera o coração. Saudade é veículo de dor, tristeza oportuna, que chega como um prenúncio de que estamos doentes, e não há cura descoberta, nem analgésicos, um tumor que um dia foi benígno, nos traiu e agora nos sepulta - . Não tive coragem de chegar ao quarto, e então fiquei a observar a lua. Quem sabe passar a noite ao relento, lento, vazio, desconcertante, gelado. Assim, comprimindo a alma, disfarçando a solidão, contestando com o pensamento, em frente a paz do passado, com a angústia do presente, e a incerteza do futuro. Futuro que dispenso. Dispenso qualquer amanhã, dispenso viver com essa dor. Dispenso viver sem o amor. Meu coração dói, dissipa, dilacera, parece estar em milhares de pedacinhos. Aqui vou ficar, encolhida, expremida, sem vontade, com saudade...Sem amor, com dor...Suplico uma tempestade, uma chova intensa, para que eu possa chorar minha dor, por toda a madrugada sem que ninguem ouça ou perceba, que meu corpo já não encontra minha alma, e sozinho tenta colar meu coração vazio, despedassado...